sábado, 18 de junho de 2011

Memórias da Infância (1) - A CASA

Preâmbulo


Resolvi escrever uma série de contos sobre a minha infância. Meu irmão Carito disse, que seria melhor assim, senão o leitor vai cansar se eu escrever tudo de uma vez só... Tá certo! É que eu sou meio "aperreada" ...


Em Natal, dividida entre a Rua Cônego Leão Fernandes e a Rua Otávio Lamartine, vivi a maior parte de minha infância. Na primeira, morei com meus pais e irmãos, na segunda moravam meus avós (pais de minha mãe) que depois mudaram-se pra nossa rua "Cônego". 

Tenho lembranças também da Rua Trairi, onde moravam meus primos quando pequenos, e da casa de outros primos no centro da cidade (esqueci o nome da rua)... Do Rio de Janeiro, quando meu pai foi fazer um curso de especialização... Da Redinha, praia onde passamos nossos primeiros veraneios  e de Pirangi (aí eu já tinha dez anos...).

Vagas lembranças da praia de Areia Preta, onde meus primos moraram por um "pequeno" tempo, e nós também enquanto era feita uma reforma em nossa casa.

Na "Cônego" tivemos duas casas. A primeira, minha mãe foi a "arquiteta" e morei nela até meus catorze anos. A segunda foi projetada pelo mais famoso arquiteto de Natal na época, Ubirajara Galvão. Era uma bela, grande e funcional casa. Mas aí eu já era adolescente...

Voltando a minha infância, nesse texto 1, vou falar da nossa primeira casa na rua "Cônego"...


A Casa na "Cônego Leão Fernandes"


Primeiras lembranças...

Da nossa primeira casa, lembro da sala com uma enorme radiola, onde eu escutava meus discos de estorinhas... Eram pequenos discos de vinil coloridos. O rouxinol do imperador, e outras estórias. Lembro também de um disco de canções de Natal cantadas por um grupo de crianças cariocas. Passava horas sentada na sala ouvindo meus discos...


Compact discos de vinil...


Lembro de uma cortina nessa sala, com cactus desenhados... Verde e marrom, acho...  Parede de pedra... Lembranças que ficam impregnadas na nossa mente... O piso da sala com três cores, mas o branco predominava. Tenho ele na memória mas não sei descrever...
Na sala, eu meus três irmãos. A radiola... O piso...
Três quartos: Um enorme, que era de meus pais, e de tão grande o dividiram para meus irmãos menores, quando nasciam... O meu, no começo era o do meio, depois passou a ser o da frente, não sei o motivo!


O Berço


Eu e todos meus irmãos ao nascerem ficávamos num berço tradicional que tinha sido da minha bisavó ou tetravó, sei lá. Esse berço passava por todos os primos, filhos dos primos, sobrinhos e até meus filhos... Depois sumiu... Alguns da família entendiam o sentido verdadeiro do berço e o valorizavam, mas...
Eu, no berço "tradicional"
Depois, na medida que íamos crescendo, cada qual tinha seu berço maior, e em seguida sua própria cama... 
Eu, já maiorzinha e num berço maior...


Árvores de Natal e outras coisas mais...


Minha mãe dava muito valor as tradições, festas, enfim...

No Natal, íamos pegar galhos num terreno baldio vizinho pra fazer nossa árvore. Minha mãe, como sempre teve espírito de artista, criativa, não gostava de fazer árvores iguais a todo mundo. A dela sempre tinha um toque de classe, distinto. 
Eu, no meu primeiro Natal

Uma árvore de galho...
Mas, eu, criança, queria uma árvore igual a de todos. E fazia uma particular pra mim, pequena, no meu quarto. Enrolada com algodão pra imitar a neve e com os cartões de Natal recebidos das coleguinhas da Escola Doméstica, pendurados... Era minha árvore!


No Natal a e Ano Novo íamos todos à missa da meia noite, campal. A maioria das vezes, que eu lembre, na Igreja Santa Terezinha, onde me batizei e fiz minha primeira comunhão. Como eu tinha muito sono, tomava café antes da missa. Um dia, apressada, coloquei farinha em vez de açúcar. Tomei assim mesmo. 



O Quintal e o Jardim...


Voltando à nossa casa... Nosso quintal era grande. Pelo menos aos olhos de uma pequena menina. Tinha uma goiabeira enorme, que dava goiabas brancas, grandes e saborosas. Eu, como as tinha fáceis, "era doida" pelas goiabas vermelhas, que não tinham em casa (parece que a gente valoriza pouco o que tem fácil...).
http://www.informacaonutricional.net/nutricao/goiaba-branca-tabela-valor/
Nossa mesa de almoço e jantar ficava num ponto estratégico. Tínhamos um terraço-garagem, ou seja a primeira parte era garagem, e nossa mãe dividia com um biombo, pintado por ela, a parte que seria nosso lugar de comidas. Como era um terraço aberto, tínhamos a natureza ao nosso redor, o quintal bem ali, a poucos passos. Aquela mesa era privilegiada!


Lembro de galinhas correndo pelo quintal, e de "Dona" minha babá "areando" panelas, lá "acocorada" e eu a ajudar ou a atrapalhar... "Dona" também gostava de fumar cachimbo. Eu gostava de sentir o cheiro. Às vezes vejo minha imagem correndo com as galinhas ou sentada com "Dona"*...


*"Dona" já não era tão nova, ela já tinha sido babá de minha mãe! Mas era bem disposta. Até demais! Mesmo depois que deixou de ser minha babá continuou lá em casa ajudando... E, mesmo depois que foi pra sua casa, nos visitava sempre. Cada vez que ela aparecia eu corria pra ela e a abraçava fortemente! Eu era "doida" por ela...

Eu, no quintal, com galinhas...
O terraço da nossa casa era vermelho e eu gostava de ajudar a passar "cera" nela ( a gente chamava "encerar"!). Ficava lindo, todo brilhante! Quando chovia, e eu tomava banho, mesmo de chuveiro, tinha uma sensação ótima. Cheiro de talco, cheiro de chuva... 


É quase possível fechar os olhos e reviver aqueles momentos. Eu, tomada banho no terraço vermelho, com um coelho (de pelúcia) nos braços e a chuva lá fora caindo quase aos meus pés... 
Eu, no terraço com meu coelho...
Nossa casa tinha uns bancos no jardim. Eu costumava pular de um a outro e por isso estava sempre com as pernas arranhadas, pois nem sempre conseguia alcançar o outro banco... Tinha também um jambeiro e uma árvore que dava umas flores lindas, flamboyant, acho. Subia nela e lá do alto podia ver a rua inteira... 
Passeava pelo muro de pedra, que tinha algumas ondulações, algo como telhas em cima... De vez em quando pulava lá de cima pra calçada.
Eu, quase adolescente (de farda), e o muro tal como descrevi...
De irmãos

Nunca quis ter uma irmã. Nem sei o porquê. Talvez porque gostava de ser "única"! Mas, sei que minha mãe queria muito ter outra menina. Quando ela ia pra maternidade, eu rezava sempre que fosse menino. Tive três irmãos homens! Graças!


Contam que meu pai não queria que ninguém me "pegasse", quando eu era bebê. Minha babá, então, não deixava ninguém "chegar nem perto" de mim. Se diziam "que coisinha bonitinha", ela logo retrucava: "não pode pegar, o pai dela não gosta". Resultado: muita gente me achava uma criança chata (soube depois). Never mind, adoro meu pai, até por isso! 

O primeiro irmão "macho" a nascer, João, tinha quase quatro anos de diferença de mim. Tentei fazer dele meu brinquedo. Era meio gorducho e fofo, bom pra beliscar. Queria alguém pra brincar comigo e meio que o obrigava a fazê-lo, mas nossas brincadeiras incluíam também carros, não só bonecas. Em todo o caso, eu o ameaçava quando ele não queria fazer o que eu queria! 
Meu irmão tão "fofo"!
Quando ele cresceu mais, se revoltou e passou a querer me bater (na verdade me batia e jogava em mim tudo que tivesse ao seu alcance!). Entre tapas, murros e puxões de cabelos, conseguíamos sobreviver e até ficar amigos na hora do castigo. 


Nossa casa tinha um beco por onde passávamos correndo quando pairava no ar uma ameça de castigo, e íamos nos esconder no próprio beco, no quintal ou na goiabeira... 


Nesse beco, meu irmão João queimou um "forte apache". Não todos os bonecos, apenas os soldados. Disse que era uma guerra de índios contra soldados, e como ele era "do lado" dos índios, resolveu que os índios iriam queimar os soldados. Queimou de verdade. E era um forte novinho. Tinha acabado de ganhar  de aniversário!
http://www.dasantrola.com/2010/09/forte-apache.html
E afinal...


Posso dizer que me sentia feliz naquela casa e na minha rua, com minhas bonecas, meus brinquedos, minhas árvores,  minhas estórias... Com "Dona", com vovó (que me visitava todos os dias ou me levava pra casa dela, me fazia "cafuné" pra dormir e muitos "mimos" mais...), com meus pais, com meus primos, com meus irmãos e minhas amigas...


Entre muitas brincadeiras, alegrias e alguns choros e poucas dores, vivemos nossa infância...




Obs. Nessa série de contos s/ a infância, ainda falarei sobre a Rua, Praias, etc e tal... Me lembrei dos nossos filhos ou de nós mesmos: "Pai (ou Mãe), conta uma história!" Tá bom, vamos contar mais. Entrou por uma perna de pinto...





2 comentários:

  1. O que acho legal nestas histórias,são as tradições revividas e também como não sou de Natal ,morro de curiosidade para saber das ruas e histórias do povo desta cidade.Vou continuar lendo...

    ResponderExcluir